domingo, 14 de fevereiro de 2010

Viviam muito bem, felizes após anos de união. Um sempre muito carinhoso
e atencioso com o outro. Tinham filhos, frutos de seu amor.
Dividiam as alegrias e as dificuldades que a vida traz.
No geral, se davam bem e viviam plenamente.

A casa onde viviam era grande e confortável, mas a mulher desejou melhorá-la e seu marido concordou em satisfazer seu desejo.
Ele contratou um pedreiro e um ajudante para que a obra fosse feita com qualidade e para que ele
pudesse aproveitar melhor seu tempo - com sua família, provavelmente.

Um dia, enquanto os empregados trabalhavam no terraço da casa, ele se sentou ao pé da escada
com sua mulher. Num degrau acima do de seu esposo, ela distraia-se afagando os cabelos
do amado. Ela, dona de casa, satisfazia-se em servir bem as pessoas que mais amava.
Ele era um chefe de família honesto, esforçado e responsável. Mas também era um homem era desconfiado.
Duvidava de que os pedreiros estivessem fazendo seus serviços da melhor
forma possível. "Eu vou subir lá no terraço e ver o que eles estão aprontando".
A mulher desaprovou a idéia. Biliscou-o e disse-lhe para deixá-los em paz,
além de ter afirmado que, pela desordem do lugar, ele poderia se machucar.
Seu esposo pareceu concordar. Ela, distraiu-se e foi ao banheiro, deixando-o só.
De repente, ouviu os gritos de um dos homens que trabalhavam na obra: "Dona! Dona! Vem cá, dona!".
Assustada, correu para o terraço e viu seu esposo caído no chão. Ele a desobedecera. Aproveitara sua ausência para
espionar, ignorando o conselho da mulher.

Lá estava ele. A respiração descontrolada, o sangue fungindo de sua cabeça
e a língua, já negra, aumentavam o desespero de sua esposa.
Sua cabeça rachou-se com um tombo assim como aconteceria a um espelho. Um espelho que se partira e que não poderia
ser consertado. Um espelho da qual ela nunca mais viria seu reflexo.
A corrida contra o tempo foi em vão. Ele estava morto. Ela viu, em questão de poucos minutos, sua vida se
transformar como nunca havia imaginado antes. Este seria um ponto final?

Anos depois, a então viúva conta sua história. Seus grandes e elegantes óculos escuros cobrem suas expreções.
A vida impôs a ela uma nova condição e o tudo o que pôde fazer foi aceitar. E porquê não aceitaria, afinal?

Seu corpo criou marcas. Seu jeito de andar ficou lento. Seus cabelos, um dia castanhos, estavam esbranquiçados pelo tempo.
De fato, o episódio divisor de águas não foi um ponto final. Fora uma dolorosa vírgula.
Ali estava ela, conversando com desconhecidos que não desviavam os olhos de sua figura,
e não com seu amado. Ela não afagara mais os cabelos do homem que a amava. Não cuidara de seu conforto como
fazia antes. Tudo o que podia fazer era contar com as lembranças que não se foram
para trazê-lo de volta, para mantê-lo vivo consigo para sempre.
"A casa bonita que eu tenho hoje custou a vida do meu marido". Fez uma pausa e respirou fundo. Em seguida prosseguiu com
outros assuntos.
A sua volta, todos os ouvintes de sua sua história, imaginavam o que lhe veio em mente nos poucos segundos em que se silênciou.
"Preferia ter as estrelas como teto e tê-lo comigo", quem sabe

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Déh