terça-feira, 21 de julho de 2009

Entrevista com Griot

Resolvi postar essa matéria que eu fiz para o jovemreporter.com. Eu a adorei e espero que vocês também gostem.


Escola Municipal Ivonete dos S. Alves recebe Macedo Griot para discutir a cultura afro-brasileira
Por Jéssica Oliveira
(Fotos: Cortesia da E.M. Ivonete dos Santos Alves)


Para aqueles que desconhecem o significado do termo que enfeita seu nome, Macedo explica que griot é uma palavra africana designada para nomear os garotos de recados, responsáveis de ir de aldeia em aldeia contando os fatos e histórias, num contimente marcado pela ausência da escrita. Os griots eram os conhecedores da história do seu e de outros povos, além de dominar assuntos como geografia e política, tudo isso contado por meio de muita música e poesia.
Macedo Griot adotou o termo ao reconhecer uma semelhança com esses guardiões da tradição oral: "Eu não descobri um talento para ser Griot. Por ser escritor, compositor e músico desde os meus 16 anos, eu percebi que eu já era um contador de histórias a minha maneira e então, no contato com a minha história afro-descendente, eu simplesmente incorporei determinados elementos e, com muita pesquisa e aprimoração, enriqueci a dinâmica de contação de histórias com elementos do pensamento afro-centrista", conta.
E foi com esse talento e simpatia, que Macedo Griot encantou a Escola Ivonete dos Santos Alves com suas histórias e cantigas no dia 30 de junho, data escolhida pela escola para a culminância do projeto da cultura afro-brasileira. "Nós entramos em contato com o Macedo e foi aquele jeitinho brasileiro", explica a CPP Andréia Quirino. "'A minha escola é municipal e nós não temos como pagar pela visita'. Ele foi super gentil e se propôs a ir na escola mostrar seu trabalho para as crianças sem cobrar cachê. A escola toda é grata por isso.
Macedo Griot tem várias peças teatrais em seu currículo, entre elas a comédia "O Homem Que Matou a Tevê", que em 2001 foi premiada pelo Governo do Estado no projeto Profena, e "Oficina das Máscaras", que foi aplaudida pela Universidade de Pernambuco em 2006, onde fala sobre as máscaras usadas pelas pessoas perante a sociedade. "Minhas obras fogem da formalidade, primando pela objetividade e pela linguagem popular. Elas são feitas para o povo, não para a intelectualidade", conta.
Macedo também abriu o Fórum Mundial de Educação em Nova Iguaçu com o monólogo "Entrevista com o Griot", cujo espetáculo foi o único na história do fórum a receber uma carta de indicação pela qualidade artística e pedagógica. "Esse tipo de coisa me envaidece", se gaba em meio a risos. Segundo Griot, todas as suas peças teatrais são feitas com muita paixão e espera que elas contribuam para o coletivo. "O objetivo primordial é que as obras tenham consistência e possam andar independentemente de mim. É um pecado permitir que a grande massa permaneça na ignorância, sem conhecimento de sua potencialidade, de sua história esem auto-estima.
Para Macedo Griot, o Brasil só vai emplacar como potência mundial quando o povo despertar para a realidade, descobrindo e sentindo orgulho de ser brasileiro. Além de sua relação com o teatro, Griot lançou um CD com o apoio do Centro de Direitos Humanos da Diocese de Nova iguaçu, chamado "Mulher: A poderosa""Esse CD é destinado às mulheres oprimidas, não às que são libertas e independentes", explica ele. O CD é um trabalho que envolve texto, música e poesia, focando no fortalecimento da auto-estima feminina.
Conflito de ideias
Macedo Griot é carioca da gema e hoje, morador de Nilópolis, se diz "cidadão da Baixada" por sua vida social e profissional se desenvolverem pelos municípios da região. Ele revela que sua paixão pela leitura se deu pelo fato de ter, desde cedo, um contato muito grande com a religião. "Eu tinha uma tia que se tornou protestante e que me levava sempre à igreja e me fazia ler a Bíblia". Contudo, foi com a avó que conheceu os centros de umbanda, onde se batizou. Essa diversidade despertava-lhe interesse e curiosidade, o que, pelo visto, é marca registrada do autor: "Sou curioso quase que doentemente.
Para o artista e ativista, as pessoas precisam permitir ser tocadas pelo conflito de idéias. "Nunca ouviu dizer que ninguém tem opinião própria, que somos a soma de diversas opiniões?", brinca. Não se sabe se é modestia ou se é a pura verdade, mas Griot diz não ser um homem intelectualizado. "Eu apenas gosto de informação", esclarece.
Eu sei que é redundante, mas tenho que dizer: é fundamental". Essas foram as palavras de Griot a respeito do projeto realizado pela escola de Jd. Pernambuco. Ele acredita que a construção do entendimento da história e cultura afro-brasileira, carregada de geração em geração, deve ser um exercicio diário. "É preciso fazer com que as crianças sintam orgulho de sua descendência, que aceitem a diversidade que as cerca", acredita. Essas palavras, ditas por muitos, há tempo deixou de ser apenas opinião; desde de 2003, elas passaram a ser obrigação em toda rede de ensino com a Lei Federal 10.639, que institui a inclusão no currículo oficial escolar da "História e Cultura Afro-Brasileira". "É fundamental que a escola seja o laboratório dessa diversidade que é a tônica da brasilidade.
Macedo Griot lamenta reconhecer a existência de profissionais de educação que usam termos como "cabelo bom/cabelo ruim" em salas de aula ou que se referem à ditadura militar como "as páginas negras de nossa História". "Precisamos destruir o chamado 'racismo estrutural' e as tarjas perjorativas que são atribuídas não só aos negros, como também aos indíos, aos nordestinos, aos judeus e tantos outros que sofrem com o preconceito", queixa-se, insistindo na ideia de que o povo só vai entender o que é ser brasileiro quando aceitar a diversidade.
O dramaturgo se diz o prercursor da nova escola de pensamento: o sobrevencialismo. "Essa é a última das escolas de pensamento; é o todo. Eu misturei todos os 'ismos'. Romantismo,dadaísmo, modernismo, etc- e aproveitei somente o que é útil." Osobrevencialismo exige uma postura "Sevirista" pois, como conta seu criador, para sobreviver, você precisa "se virar", daí o nome. "Talvez eu só tenha nomeado, porque todo mundo já nasce com esse instinto",brinca.
E para finalizar, nada melhor que um trecho da canção levada à escola por Macedo Griot, em uma história sobre individualidade, união e compreensão: "Veio do Céu para ser Odara". Não sabe o que isso significa? Macedo explica: "Odara quer dizer 'bonito'. Todos nós nascemos para sermos bonitos. Todos!".

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